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A irresponsabilidade tem preço

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por Samuel Mendonça

Governadores e prefeitos de todo o Brasil adotaram medidas restritivas de circulação de pessoas para evitar a proliferação da COVID-19. O isolamento social é medida orientada pela Organização Mundial da Saúde para “achatar” a curva, termo que explicita a necessidade de evitar que muitas pessoas contraiam o vírus ao mesmo tempo. O não achatamento da curva significará o colapso do sistema de saúde como já aconteceu em diferentes países. Contrário às ações de municípios, de estados e da Organização Mundial da Saúde, o Presidente da República Jair Messias Bolsonaro – deixo claro que não se trata de posição do governo, por mais estranho que isto possa parecer – tem insistido no fim do isolamento social, inclusive tendo aglomerado pessoas em passeios em Brasília. A irresponsabilidade tem preço.

É preciso reconhecer o trabalho consequente e responsável do Ministério da Saúde junto aos Secretários de Saúde dos Estados e Municípios. A política do governo é aquela que se materializa em orientações do Ministério da Saúde. É possível dizer que o governo orientou a população para o isolamento social e o ex-Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta é quem falava pelo governo. A contradição está na posição específica do Presidente que insiste no fim do isolamento social contra o seu próprio governo. Insisto: a irresponsabilidade tem preço.

Estudos evidenciam que o isolamento social tem freado a proliferação do vírus. O caso mais recente se refere ao Grupo Sistemas Complexos, do Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará que, em conjunto com a Secretaria da Saúde e da Célula de Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Fortaleza, apresentou resultados às autoridades. Os pesquisadores afirmaram que as medidas de isolamento daquele Estado diminuíram o crescimento de casos. No dia 24 de março, a cidade de Fortaleza poderia estar com 1.194, mas, felizmente, o número era de 542. O Estado do Ceará estaria com 1.349 casos, mas, estava com 607. O médico epidemiologista Antônio Silva Lima Neto afirmou: “Essa pesquisa mostra que, se não tivesse tido isolamento, a gente estava com o número de casos muito maior hoje, e a nossa situação estaria realmente em crescimento desordenado e acelerado. As medidas de isolamento interromperam essa tendência natural”. (Fonte: Messias Borges, G1 CE, 09/04/2020).

A irresponsabilidade do Presidente da República tem feito com que milhares de pessoas retornem às ruas. O ex-Ministro da Saúde foi demitido porque o Presidente quer afrouxar as orientações sobre o isolamento. É evidente que a população fica perdida quando há orientações contraditórias mesmo que o governo tenha se posicionado pelo isolamento. A confusão tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro.

A insegurança criada por Bolsonaro tem preço. O prejuízo desta irresponsabilidade tem sido observado por governadores e prefeitos. João Doria, governador de São Paulo, por exemplo, pediu que a população ignore o Presidente da República. Tendo aumentado a circulação de pessoas na cidade de São Paulo, Doria afirmou que até prisões poderão ser feitas no caso de descumprimento das orientações sobre o isolamento. Vejam que o preço da irresponsabilidade de Jair vai além do retorno das pessoas às ruas, que fará aumentar a proliferação do vírus, por certo. A ameaça de prisão de João Doria é também preço da irresponsabilidade de Bolsonaro. Se Bolsonaro seguisse o que determina o seu Ministério da Saúde, o isolamento social seria eficaz, mas, sendo ele agente contra o isolamento, o esforço de prefeitos e de governadores é anulado.

Jair Bolsonaro demitiu Luiz Henrique Mandetta por atuar de forma técnica. Ele deseja ministro ideológico e não técnico. Que o Presidente acabe com o isolamento social e se responsabilize pelas mortes. A mensagem do Presidente é clara à população: voltem às atividades ignorando o isolamento social. O aumento do número de casos e de mortes da COVID-19 é de inteira responsabilidade do Presidente da República.

Samuel Mendonça é Filósofo e Professor
e-mail: samuelms@gmail.com

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