Artigos

Bolsonarismo e a morte

Compartilhar

por Samuel Mendonça

O bolsonarismo é um movimento capitaneado por Jair Messias Bolsonaro mas que vai além dele. Na verdade, são muitos grupos que constituem o bolsonarismo, de ricos a pobres, de pessoas com formação acadêmica a descolarizados como é o caso do astrólogo Olavo de Carvalho. O que simboliza o bolsonarismo é o discurso pronto, do “tio do churrasco”, sem qualquer base na ciência e, principalmente, o desprezo ao conhecimento e às universidades. Abraham Weintraub é o típico exemplo de integrante do bolsonarismo. Medíocre professor de uma universidade e sem ter o diploma de doutorado, o ministro desconhece a língua portuguesa tendo escrito “impreCionante”, “paraliZação”, “suspenÇão”, para citar apenas alguns exemplos. E claro que o Presidente Bolsonaro é o grande líder do movimento e suas posições são radicais em defesa da morte.

Afirmou Jair Messias Bolsonaro: “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre, hein?”. Disse também: “[…] E fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando 30 mil, e começando por FHC”. Ele disse ainda: “Alguns vão morrer? Vão morrer, lamento, essa é a vida”. Bolsonaro tem envolvimento com milicianos, defende este grupo de matadores e seu principal lema de campanha foi a defesa de armas. Qual a finalidade de uma arma de fogo senão a morte? O bolsonarismo tem como objeto de desejo a morte.

Bolsonaro enfrenta sua maior crise desde que assumiu a Presidência e armas de fogo são incapazes de matar o problema. Trata-se do coronavírus. O bolsonarismo, alimentado por Jair Bolsonaro, que não se cansa de eleger inimigo para empreender a morte dele, escolheu o governador de São Paulo João Doria que, literalmente, recebeu ameaças de morte. Disse o governador: “(Vou) aproveitar para dizer também para bolsomínios, bolsonaristas, ameaçadores, agressores como estes que estão aí fora gritando, que eu não tenho medo de cara feia, não tenho medo de zero um, zero dois, zero três, zero quatro, não tenho medo de Bolsonaro”. Jair Bolsonaro elege o alvo e integrantes do bolsonarismo assumem a tarefa de ameçar o “inimigo”.

O movimento se refere a um grupo de pessoas ressentidas e que, por ódio, querem um Brasil melhor para eles mesmos. Ignoram que o Brasil é diverso e constituído de pessoas com valores distintos, com diferentes religiões e integrantes de diversos partidos políticos. Para integrantes do bolsonarismo, começando por Bolsonaro, há o “nós” e o “eles”. Para o grupo, se você faz parte do “nós”, então, você é pessoa “de bem”. Ao contrário, se você faz parte do “eles”, então, você deve ser eliminado. Foi assim que o bolsonarismo armou a sua artilharia do ódio contra os desafetos Alexandre Frota, Gustavo Bebbiano, General Santos Cruz, Janaina Paschoal e Joice Hasselmann, para citar alguns adversários que passaram a criticar aspectos do governo.

Querem acabar com a pobreza eliminando os pobres. Definem-se como patriotas, mas, de forma contraditória, querem acabar com as instituições da República, especificamente o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Diante da epidemia do coronavírus e as orientações da OMS sobre a necessidade de isolamento, este grupo, motivado por Bolsonaro, exige que as atividades voltem ao normal “dentro de seus carros”. O bolsonarismo quer a morte, o caos, e a desgraça do “outro”.

A pandemia do coronavírus contabiliza mais de dez mil mortes na Itália e mais de cem no Brasil, para citar só dois exemplos. Parecia razoável esperar do poder público ações em defesa da vida. De um lado, o Ministério da Saúde e diversos governadores e prefeitos, seguindo o que preconiza a Organização Mundial da Saúde, têm empreendido esforços em defesa da vida, com a determinação do isolamento. No entanto e paradoxalmente, o Presidente da República Jair Messias Bolsonaro tem feito discurso em defesa da morte, municiando o bolsonarismo a fazer o mesmo.

Ao contrariar a OMS e recomendar que as pessoas voltem às atividades regulares, Bolsonaro orienta a população para a morte. Não é de hoje que Jair defende a aniquilação de seus adversários. Para ele, se os governadores estão fazendo algo em um caminho, mesmo que seguindo as orientações de seu Ministério da Saúde, então, o Presidente define que precisa fazer o contrário. Ele parece viver atormentado por inimigos imaginários e demonstra dificuldade em reconhecer que existe um inimigo invisível que se chama coronavírus. Este inimigo irá matar seus adversários mas também integrantes de seu grupo de ressentidos.

Tendo sido militar, é impressionante a falta de estratégia e de reconhecimento do inimigo por parte de Bolsonaro. Orientado por seus filhos que se orientam com o guru lunático Olavo de Carvalho, eles negam a existência do coronavírus. Bolsonaro afirmou “Eu não acredito nesses números”, referindo-se aos infectados e mortos pela COVID-19.

Portanto, Bolsonaro e o bolsonarismo negam a realidade, negam os números, negam a ciência, negam o coronavírus. Enquanto isto, o mundo inteiro tem tomado medidas contra algo que para o Presidente e seu movimento não passa de fantasia! Não deixa de ser irônico que integrantes do bolsonarismo também têm sido infectados. Mais de vinte pessoas que viajaram com o Presidente para os USA contraíram o vírus, incluindo Augusto Heleno, Ministro do GSI. Negar o coronavírus tem sido insuficiente para deixar de contrair o vírus que mata!

Samuel Mendonça é Filósofo e Professor
e-mail: samuelms@gmail.com

Deixe um comentário