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O papel dos jornais e seus detratores

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por Luiz Roberto Saviani Rey

Não quero polemizar mais do que já polemizei com essa questão de imprensa, e de críticas contra o papel de jornalistas e tudo o mais! Há, porém, um ponto em que não se admite discussões, debates e assertivas desponderadas e irracionais.

Ouvi ontem, entre sobressaltado e atônito, o ministro Luiz Henrique Mandetta assacar contra a imprensa, dizendo que ela tem que apresentar informações suaves, amenas, boazinhas etc.

Volto à carga, lembrando um entrevero que tive no passado com um intelectual da Unicamp – cujo nome omito, não apenas porque já morreu, mas por sua envergadura e respeitabilidade. Corriam os anos 1990. Certa manhã, deparo-me com um artigo do cidadão na página de Opinião de um certo jornal. Dizia ele, irresponsavelmente, que (sic) “Os jornais estavam todos errados por noticiarem catástrofes e fatos negativos”. E que deveriam (todos os jornais) “publicarem coisas interessantes e positivas”.

Como exemplo, citava um engraxate de nove anos que trabalhava de sol a sol para sustentar uma vovozinha de 82 anos. Não é preciso dizer que não me comovi com a história, e ainda tive uma altercação meio violenta com o cidadão em um restaurante da cidade.

Discutimos feio e ele nunca mais me deu entrevistas. Logo depois, escrevi que o fulano estava completamente enganado ao sustentar tais ideias soft sobre os jornais, porque, em suma, jornais não foram criados para bater palmas e dar tapinhas nas costas. Que há neles um caráter crítico construtivo, de contraposição e de demonstração de fatos e realidades de interesse público. E que é por eles que as pessoas conhecem situações de calamidade, de abusos, de desvios etc.

Ademais, dizia eu, um engraxate de nove anos jamais deveria estar trabalhando, porque seu lugar era na escola e não na vida árdua. E sua vovozinha de 82 anos deveria estar amparada pela seguridade de um projeto de pensões e aposentadorias decente e reparador. Mas não tive dúvidas, como não tenho pejo em dizer: jornais não sobrevivem operando apenas com seu noticiário.

Eles necessitam do lucro e da lucratividade para fazer circular notícias, pagar salários e superar as despesas operacionais, contábeis e tributárias. Trata-se da empresa jornalística. Dessa forma – e repeti a minha ladainha do entrevero no restaurante – se ele quisesse publicar o jornal de amenidades, apenas com coisas boas, que arcasse com o declínio de leitores e a provável falência.

Porque, também, do ponto de vista não apenas mercadológico, operacional, financeiro, jornais são produtos de reflexão e tomada de consciência. Poderia citar aqui Weber e Groth e outros tantos, para academizar e enriquecer o debate, porém, não é o caso. O texto ficaria mais longo e aborrecido.

Do ponto de vista material e, também, numa visão acadêmica, de estudos de mídia e de suas relações com as sociedades, há visões e pontos de vista sobre as quatro características dos jornais: periodicidade, universalidade, atualidade e publicidade. Elas não são elementos justificáveis pelo produto jornal, mas por finalidades da sociedade e da história.

E há seus reflexos, há a opinião pública, o leitorado, o conteúdo, a recepção e as consequências desse conluio. Em princípio, há quem acredite que a mídia manipula e distorce seus conteúdos para vender, o que não ocorre com frequência e em todo produto.

Mas há filósofos, sociólogos e pensadores que entendem que, na contramão do que dizem, não são os jornais os definidores, com exclusividade, dos conteúdos a circular. Dizem que ele seria direcionado pelo público, pela mão e o gosto do público, que deles exige o sensacional, o caricato, o sangue e a guerra.

Enquanto filósofos da chamada “Escola de Frankfurt” debruçavam-se sobre o papel e conteúdo dos jornais, para criticá-los e destroçá-los, acusá-los de manipulação e desvios, Zucker estudava as reações do público, e sustentava que os jornais refletem a cara e o coração de seus leitores.

Portanto, jornal é jornal, não é banca de flores ou circo de espetáculos mambembe! Seus leitores efetivos formam um quadro social elevado, crítico, consciente e exigente. Ruim com eles, pior sem eles!!

Luiz Roberto Saviani Rey é jornalista, escritor e professor de jornalismo com Especialização e Mestrado pela Faculdade Cásper Líbero.

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